Não concordo com o texto abaixo, mas resolvi copiar e colar para que os estudiosos do dilúvio tenham acesso. Concordo que ninguém tem uma resposta completa sobre todos os eventos do passado, nem nós os criacionistas conseguimos explicar o dilúvio, nem os evolucionistas podem negar todas as provas de um dilúvio bíblico.
“GEOLOGIA” DO DILÚVIO – AFUNDANDO A ARCA DE NOÉ.
Desde a origem do criacionismo até os dias de hoje diversos problemas cercaram o relato do dilúvio como algo com base científica. E claro, todo o relato tem um “empurrãozinho” do sobrenatural. Aqui vamos fazer um breve levantamento desses problemas.
O primeiro fato que temos de lidar é que o dilúvio é narrado em mais de uma civilização. Teoricamente, quando há vários relatos sobre o mesmo assunto poderíamos pressupor que ele de fato aconteceu, pois tem o peso da ocorrência independente em diversas culturas. Ele é retratado em diversas culturas do mundo, desde o hinduísmo, as religiões abraamicas e nas civilizações sulamericanas pré-colombianas. O que não bate são os detalhes dessa narrativa. Por exemplo, civilizações mongóis não relatam absolutamente nada sobre dilúvio. Os relatos de um dilúvio em outras religiões datam períodos diferentes, sendo os sumérios e hindus mais antigos e as sulamericanas mais recentes. Isso demonstra que não houve um dilúvio global, mas que a interpretação para fenômenos naturais são meramente fenômenos locais, ou seja, o relato do dilúvio pode ser simplesmente uma grande inundação pontual.
Isso é muito mais simples do que a interpretação global já que não há evidência de universalidade, já que paleo-dunas e as aragonitas do Brasil não tem depósitos de resquícios de mar datado em 4 mil anos ou a ausência de elementos químicos que demonstrem que o Monte Ararat foi coberto por água. Tudo isso pesa contra o relato do dilúvio.
A segunda concepção é; Abraão viveu na cidade de Ur, fundada por sumérios que já tinham seu mito diluviano na qual uma arca foi criada para suportar não um, mas sete casais de cada espécie. Os contos de Gilga Mesh e Ugarit deixam claro a relação do dilúvio cristão com o dos Sumérios. Há ainda leituras distintas para a história de Noé, feitas pelo cristianismo e pelo judaísmo, que remetem a interpretações distintas de um suposto fato. Esses são relatos históricos, e há diversos outros relatos de dilúvios na civilização grega, em mitos africanos, astecas, maias, incas, e tantos outros regionais.
No final da década de 20 o Rio Mississippi e o Rio Yazoo sofreram uma grande inundação. As evidências ainda estão presentes em certos trechos do terreno local e muitos produtores de algodão da época relataram isso, bem como negros escravos bluezeiros como Robert Johnson e Charley Patton relatam-no em suas músicas. O resultado foi notável sob diversos pontos de vista, causando 204 milhões de dólares em danos e prejuízos, sendo um dos desastres naturais mais caros da história americana.
É natural pensar que o dilúvio seja global, mesmo que não tenha sido. Se considerarmos que o povo da Palestina de 4 mil anos atrás mal conhecia seus limites territoriais e o continente americano não era cogitado, poderiam alegar que o dilúvio poderia ser um evento global, ainda que fosse apenas uma enchente do rio Tigres ou Eufrades.
A alegação de que o dilúvio seja um evento global implica em diversos outros fatores problemáticos que pelo simples bom senso mostra que e apenas um mito. A primeira delas é explicar porque, e de onde, veio á água do dilúvio. Além de explicar para onde essa água foi no pós-dilúvio. É tentando explicar como isto ocorreu que as alegações criacionistas caem por terra.
Nenhum evento geológico de escala global poderia fazer a água surgir em 40 dias e desaparecer depois de um ano. Nem altas taxas globais de precipitação ou mesmo eventos geológicos com placas tectônicas. Por essa razão a geologia convencional não estuda o dilúvio e não considera como um fato. Apenas um relato civilizacional que faz parte de um mito religioso.
Foi cogitado, por criacionistas a “teoria” das hidroplacas para explicar a origem do dilúvio, uma vez que ninguém conseguia explicar de onde tanta água poderia vir, e para onde ela poderia ir. Essa “teoria” é considerada, por geólogos e cientistas como uma pseudociência, uma vez que a geologia convencional tem explicações científicas consistentes e válidas para a geomorfologia atual, bem como explicações para a origem cultural do dilúvio universal.
Por essa razão os geólogos sempre contestaram os criacionistas, desde a sua origem na década de 20 com Price.
Segundo a “teoria” das hidroplacas, abaixo dos continentes havia bolsões de água salina estocadas. Após um impacto de um meteoro esses bolsões foram pressionados em todo o planeta expulsando a água. Assim, quando a água subia de nível, o continente descia, afundando ainda mais.
Essa alegação tem profundos problemas geológicos. Primeiro porque não há qualquer evidência de hidroplacas e não há qualquer impacto meteorítico de grande porte datado em 4 mil anos. Segundo porque é teologicamente incompatível com a descrição bíblica que diz claramente que choveu 40 dias e 40 noites. Portanto, em uma interpretação literal, como fazem os criacionistas, a água do dilúvio deveria vir obrigatoriamente da chuva e não de aquíferos. Terceiro, a água deveria ir para algum lugar após o dilúvio. Com os continentes abaixados os bolsões haviam sido preenchidos, e a água não tem para onde escoar.
Isso aconteceria se considerássemos as placas tectonicas como impermeáveis, e sabemos que elas não são. A rocha que compõe a crosta terrestre não flutua, portanto, hidroplacas não existem. A rocha é densa, dura, pesada e jamais flutuaria sobre um manto aquático, mesmo porque, o solo não é totalmente sólido e sim poroso. Então a água não poderia ficar presa. A água teria sido forçada à superfície terrestre pelo peso do continente muito antes do tempo de Noé, ou mesmo antes de Adão.
Se a água estava concentrada a poucos quilômetros de profundidade, a Terra teria fervido esta água e o reservatório teria superaquecido fazendo ela evaporar do subsolo caminhando entre os poros do solo e seria perdida para a atmosfera na superfície. O calor seria acrescentado pela energia da água caindo do alto da atmosfera. Tal como acontece com o modelo de camada de vapor, e Noé teria sido cozinhado vivo. Portanto, hidroplacas não explicam absolutamente em nada o dilúvio, pelo contrário, complica-o ainda mais.
O autor da ideia das hidroplacas é Walt Brown que tem contato com diversas organizações criacionistas. O Answer in Genesis, por exemplo, tem uma relação permanente com Brown para publicar alguns de seus materiais em seus diários, especialmente sobre a pseudociência das hidroplacas. Até mesmo criacionistas da Terra antiga e outras filiações cristãs já gravaram vídeos ou publicaram textos criticando e refutando a ideia das hidroplacas. Do ponto de vista geológico, as evidências para Terra antiga são categóricas e não deixam espaço para alegações mitológicas.
Outra questão é sobre a capacidade que uma arca com dimensões tão pequenas poderia ter em abranger a diversidade biólogica que temos hoje. Obviamente não estamos considerando os dinossauros, pois a teoria de que eles conviveram com o homem é descartada pelos paleontólogos. Não há qualquer material paleoantropológico que demonstre um osso humano com mais de 65 milhões de anos, que é o tempo em que o dinossauro viveram. E nenhum fóssil de dinossauros datando 6 ou 10 mil anos. Portanto, deixaremos de lado as considerações de certos grupos de criacionistas brasileiros que acreditam que dinossauros estavam trancados dentro da arca se alimentando de forma herbívora por simples capricho de se conivente com a visão pessoal. Estamos tratando a biologia, da zoologia de animais e além da impossibilidade física de colocar dinossauros dentro de uma arca, animais não mudam sua dieta por um simples capricho ou ara satisfação do ego de Noé ou de qualquer criacionista que seja.
Em questão de diversidade temos 5.900 espécies de libélulas (Zhang, 2006), 4 mil de cupins (Kuma, 2013), 5 mil de baratas, 2.400 de louva-a-deus (Otte et al, 2012), 2.600 espécies de bichos-pau, 20 mil de gafanhotos e grilos (Zanetti et al, 2003), 67.500 de pulgões, cigarras e marias-fedidas, 360 mil espécies de besouros, 174 mil mariposas e borboletas (Mallet, 2007), 150 mil de moscas (Wiegmann, 1996), 2.500 espécies pulgas, 150 mil espécies distribuídas entre abelhas, formigas e vespas (Hoell, 1998), somando a outras ordens menos conhecidas temo um total de 900 mil espécies de insetos. Temos 85 mil espécies de moluscos (Little et al, 1964), 32 mil espécies de peixes de água doce (Fish base, 2011), 100 mil espécies de aranhas (Cracraft & Donoghue, 2004). No mundo existem mais de 6.677 espécies de anfíbios (Blackburn & Wake, 2011), 9.413 espécies de répteis (Gauthier et al, 1988), 10.214 de aves (Gill, 2006), 5.416 de mamíferos (Wilson & Reeder, 2005), 20 mil briófitas (Shaw et al, 2011), 12 mil pteridofitas (Smith et al, 2006), 56 mil gimnospermas (Campbell, 2005), 250 mil angiospermas (Jeffrey et al, 2004) totalizando cerca de 1 milhão e 528 mil espécies conhecidas pela ciência aproximadamente.
A estimativa é que chegue a 6 milhões de espécies atualmente no mundo e que supostamente teriam entrado em uma arca de 135 metros de altura com 22,5 metros de largura.
Muitos criacionistas, inclusive no Brasil, tentam justificar como casais de animais poderiam caber dentro de uma arca de madeira com essas dimensões e acabam recorrendo a especulação sobre especulação. Alguns argumentam que animais de pequeno porte como insetos não precisariam ser salvos na arca, que por si só sobreviveram, e portanto, diminuem a quantidade de animais dentro da arca. A segunda alegação é de que os animais eram filhotes, o que não tem base científica ou mesmo teológica; terceiro, recorrer a hibernação e torpor para evitar instintos naturais. Essas alegações são feitas sem o mínimo de conhecimento a respeito de questões básicas da biologia.
A primeira questão é; insetos são a base trófica da maioria dos grupos biológicos, sejam aves, seja outros insetos, pequenos mamíferos, répteis ou anfíbios. Os insetos tem uma relação muito específica com plantas e portanto salvar insetos deve implicar também na necessidade de salvar plantas. Não é possível introduzir animais em uma arca sem que sua dinâmica ecológica não seja levada em conta. Afirmar isso é recorrer a um reducionismo da dinâmica da natureza, assim como é a alegação de que Josué parou a rotação da Terra.
Em zoológicos cada jaula tem uma aclimatação a seu local de origem, inclusive com sua dieta construída de acordo com a realidade ecológica de cada animal. Se insetos, e artrópodes em geral não fossem introduzidos na arca certamente teriam morrido e entrado em extinção com o dilúvio. Eles existem, então a lógica diluviana falha inevitavelmente.
Peixes representam um problema muito grande ao mito do dilúvio, pois existem peixes de água doce e água salgada. A principal alegação dos criacionistas é que da mesma forma com que o delta de um rio doce demora para misturar-se na água salgada aconteceria no dilúvio. Durante as águas do dilúvio, em um ano bolsões de água doce teriam durado em meio a água salgada, onde o grupos de peixes teriam ficado separados. Essa é uma afirmação puramente especulativa e fisiologicamente incoerente. Isso porque haveria mistura imediata das águas e a especificidade fisiológica, bem como salinidade, oxigênio e temperatura limitariam essa alegaçao. Não existe lugar algum no mundo onde a água doce forme bolsões isolados dentro de água salgada. A água é um solvente universal, e não há motivo algum para acreditar que água doce fique isolada da água salgada. A mistura dessas duas soluções tornaria-se homogenia de acordo com a movimentação das águas, dos furacões e dos tsunamis que supostamente teriam ocorrido no dilúvio.
A alegação de que animais eram filhotes também é especulativa. Não há descrição alguma, seja na versão judaica, cristã ou mesmo suméria, dizendo que os animais deveriam ser filhotes. Geralmente, são interpretações pessoais de um mito em comum, compartilhado por uma comunidade, que é pregado por pessoas que se dizem cientistas ou que usam sua formação acadêmica para justificar suas crenças pessoais como se fossem plausíveis e cientificamente coerentes. Mas não são. Ao analisar as declarações dadas por esses membros, geralmente caem em contradição. Como o caso do Grand Canyon, ou a geologia do dilúvio. A bíblia é categórica em dizer que Deus mandou um casal de cada animal, inserir a ideia de que eram filhotes é ad-hoc, ou seja, é uma alegação utilizada para compensar anomalias não previstas pela ideia original.
É por uma questão de incompatibilidade entre diversidade biológica e dimensão da arca que criaram-se essas especulações na tentativa de fazer algo improvável e ilógico ser manifestado como algo justificável. É uma alegação especulativa de mau gosto que chega a ferir a fé das pessoas. Mesmo animais filhotes implicariam em uma diversidade muito grande e tornaria o relato ainda sim mitológico dado a diversidade de anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
O estágio de torpor e hibernação é usado para justificar como os animais ficaram durante 370 dias presos e quietos dentro de uma arca de madeira. Esta é uma informação especulativa e falsa. Na maioria das vezes é alegada por membros que desconhecem os detalhes do assunto. Geralmente, o exemplo mais comum de hibernação é o urso, ou de que mamíferos hibernam. Este é um exemplo errado, pois ursos não hibernam. Hibernação é diminuição da taxa metabólica e só pode ocorrer em animais pecilotérmicos, que são animais de sangue frio sem mecanismos internos de controle de temperatura. O urso e os mamíferos não tem sangue frio e portanto, a alegação de que mamíferos poderiam entrar em estagio de hibernação é falsa.
Ursos passam o inverno em suas tocas dormindo para que não tenham um gasto muito grande de energia sim, mas não tem a ver com hibernação, e somente fazem isto em períodos de inverno.
Mesmo assim não são todos os animais pecilotérmicos que fazem hibernação e nem todos os mamíferos adotaram esse mecanismo de compensação energética durante o inverno.
A melhor forma de crer na descrição diluviana ainda é com base única e simplesmente pela fé. A tentativa cientificista de justificar o injustificável pode desafiar a fé das pessoas, pois a lógica das relações ecológicas entre os animais não se enquadra em uma realidade diluviana.
Outra questão é; como poderiam os animais se dispersarem pelo globo terrestre em uma situação pós-diluviana onde os continentes estavam separados?
Se os continentes não estavam separados, como poderiam se separar em milhares de quilometros em somente 4 mil anos?
O mito do dilúvio não explica como os animais foram dispersados ao longo do globo terrestre e não explica o endemismo enorme encontrado em países como a Austrália, Laos, Vietnam, Panamá, Costa rica, ou mesmo porque tamanduás, preguiças, capivaras e emas só existem no Brasil.
O uso do gráfico em nuvem de pontos para tentar justificar “evolução” baraminológica falha grandiosamente. Ao estabelecer características comuns entre felinos e dizer que todos descendem de um tipo único de animal ele obrigatoriamente faz a mesma coisa quando colocar as características de primatas humanos e não humanos no mesmo grupo. Em ambos os casos formam uma nuvem de pontos única para cada grupo. Ela demonstra que todos os felinos têm um único tronco (que na visão criacionista é vista como um baramim ancestral), e seres humanos e chimpanzés também (mas aqui, convenientemente não vale, porque fere o dogma da criação).
Se colocarmos as características básicas de todos os seres vivos e gerarmos uma nuvem de pontos única, teremos todos os seres vivos em uma única nuvem, o que tecnicamente refere-se á origem da vida pela Biopoese e não pela criação divina. Mesmo as ferramentas criacionistas de analise compactuam com a proposta da evolução biológica.
Alguns criacionistas alegam que os continentes ainda estavam unidos após o dilúvio e que com a separação cada linhagem deu origem as variedades. Sendo assim, cada felino do mundo é apenas uma variedade de um tipo primordial básico. Isso implica em dizer que gatos e tigres são apenas variações de um tipo básico. É o que erroneamente eles conceituam como microevolução. O conceito de microevolução é diferente entre criacionistas e biólogos evolucionários. Se gatos e tigres são variedades de um tipo básico criado por processos microevolutivos então deveriam compreender a mesma espécie, e claramente sabemos que eles não são da mesma espécie.
Portanto, novamente, são afirmações especulativas e não tem base científica alguma, seja na biologia, ou na geologia.
Analisemos uma situação simples na geologia. A Ponta do Seixas, localizado na Paraíba (João Pessoa) é o ponto do Brasil mais próximo á África, estão separados por 4 mil quilômetros de oceano atlântico. Se usarmos essa distância e o tempo de distanciamento entre as duas placas tectonicas podemos ter uma ideia da velocidade média que elas se distanciam uma da outra. Se calcularmos a velocidade em função do tempo dito por criacionistas que é de 4 mil anos teremos a placa sulamericana se distanciando da placa africana a cerca de 97 centímetros por ano. Se uma placa se distancia quase um metro de outra anualmente, certamente viveríamos em um constante terremoto. Sabemos que as placas não se distanciam uma da outra a um metro por dia. Seria uma velocidade de deslocamento muito grande em relação a dorsal meso-atlântica, que é a fenda que separa a placa sulamericana da africana no meio do atlântico. Seu deslocamento é de 2 a 10 centímetros por ano.
Se calcularmos a velocidade media por ano em função não de 4 mil anos, mas sim de 180 milhões de anos que é o tempo da Pangéia, temos exatamente 2,2 centimetros por ano. A velocidade media de deslocamento de placas no modelo criacionista precisa ser 44 vezes maior que a do modelo convencional para que em 4 mil anos tenhamos a disposição atual dos continentes.
Se olharmos as linhas de separação presentes na fenda dorsal meso-atlantica podemos ver que em nenhum momento há grandes separações, o que nos permite dizer que o modelo de deriva continental de Alfred Wegener proposto em milhões de anos esta correto.
Entretanto, ainda sim há outros problemas com estória da Arca de Noé. O primeiro é, cada animal foi representado por um casal, e isso é significativamente problemático durante uma sucessão biológica, especialmente do ponto de vista genético. Segundo; o argumento baraminológico é inconsistente com as evidencias biológicas.
A ideia de um único casal fundador de cada linhagem baraminologica ancestral de 4 mil anos não tem respaldo científico. Alias, bate de frente com a genética básica de populações que se aprende em biologia básica no ensino fundamental, a endogamia. A endogamia e a baixa diversidade genética são as maiores evidências contra este tipo de alegação. Mesmo em ilhas colonizadas por grupos de animais, nunca ocorre pela chegada de um único casal, mas sim de diversas levas que fundam uma população inicial e colonizam um determinado local. Isso aconteceu na Austrália, Galápagos, Madagascar e tantos outros rincões ao longo de milhares e milhões de anos, ou mesmo com a colonização de animais exóticos.
O problema de ter um casal de animais, ou mesmo um casal humano como fundador de uma população inteira traz consigo a endogamia, ou casamento co-sanguineo.
Alelos são segmentos homólogos de DNA, formas alternativas de um mesmo gene e afetam a mesma característica de modo diferente. Na endogamia e co-sanguinidade ocorre o aumento do número de indivíduos que possuem alelos iguais em seus cromossomos, incluindo alelos deletérios, em condição de homozigose. Com linhagens puras certamente a homozigose prevaleceria e a baixa diversidade genotípica em uma pequena população inicial levaria a deriva genética.
Isto é, amostras representativamente baixas de diversidade de uma população não tem capacidade de adaptação e por seguinte, certos alelos podem ter a sua freqüência subitamente aumentada, enquanto outros alelos podem simplesmente desaparecer em um efeito simplesmente aleatório. Esse fenômeno é denominado deriva gênica.
Em um casal fundador a endogamia seria categórica em extinguir uma espécie e a falta de variabilidade sobre o efeito da deriva genética não permitiria processos adaptativos e consequentemente a fundação das espécies que supostamente descenderiam de um tipo básico baraminológico.
A baraminologia e um sistema de classificação criacionista que se refere ás espécies criadas por Deus. Em resumo, é uma cópia nomenclatural do sistema de classificação da biologia que foi cooptada para suportar teses teológicas com base em Gêneses 1:21 “Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres viventes que se arrastavam, os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa, segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era bom”. Ela trabalha a classificação da vida de acordo com seus respectivos tipos básicos originalmente criados por Deus.
Na biologia evolutiva a vida surgiu de uma célula a 4,1 bilhões de anos a partir de uma concentração de elementos químicos orgânicos em uma condição terrestre primitiva e pré-biótica. Para os criacionistas a vida foi criada espontaneamente por Deus, bem como seu processo de diversificação dos tipos básicos.
Isso exigiria uma taxa de especiação enorme para que tipos básicos de 4 mil anos atrás pudessem originar a diversidade de espécies que temos hoje e as que já estão extintas. Essa afirmação não bate com a genética básica que demonstra baixa diversidade biológica e exigiria uma alta taxa de diversificação para que em 4 mil anos um casal desse origem a milhares de espécies. Da mesma forma com que é inconsistente com as evidências e até com a lógica a ideia de que um paredão de 80 metros de camadas estratigráficas foi formado em um dilúvio de 40 dias, não tem coerência também a ideia de que os milhares de metros de altura doGrand Canyon foram criados pelo dilúvio.
Também não há taxa de diversificação rápida que sustente um casal fundador de uma diversidade de espécies em apenas 4 mil anos. São conhecidos mais de 9.400 espécies de répteis, que deveriam descender de um único casal e se diversificar em apenas 4 mil anos. Seria necessário o surgimento de uma espécie e meia de répteis por dia para representar a diversidade atual deste grupo, considerando somente as espécies vivas. Não vemos este tipo de coisa acontecer!
As evidências do DNA não mostram especiação nessa velocidade. A evolução, ou seja, a origem de uma espécie, é um processo que trabalha ao longo de gerações e marcadores moleculares mostram a origem de espécies ocorrendo ao longo de milhões de anos. Portanto, a baraminologia é uma alegação pseudocientífica, falsa, sem qualquer base científica, meramente especulativa.
Para a baraminologia, todas as formas de vida compartilham uma ascendência comum, ou seja, apenas algumas formas específicas de vida, geralmente equivalente a famílias ou gêneros, compartilham de um mesmo ancestral comum.
Assim, a história da vida se restringe ao nível microevolutivo, por isso os criacionistas negam a macroevolução mesmo que sejam vistas em processo de especiação por espécies-aneis, evidências no DNA nuclear ou mitocondrial, variações cariotípicas ou isolamente etológico.
Segundo a baraminologia, Deus criou toda a vida, mas não se sabe como e quando os animais se modificaram após a criação, seguindo as transformações microevolutivas, dentro do limite das espécies. Assim, não é possível identificar nenhum fóssil como sendo uma forma individual criada originalmente. Os únicos fósseis que existem então, são de animais que viveram mais de mil anos após a criação e fica a dúvida a respeito de suas formas originais após o dilúvio. Segundo essa concepção criacionista, uma espécie original criada por Deus pode sofrer somente microevoluções, adaptações sem promover a evolução por origem de espécies. Isso quer dizer que pode ocorrer modificações em suas características anatômicas, mas nunca vai deixar de ser uma espécie original criada por Deus.
Para o criacionista, uma espécie criada por Deus pode modificar sua estrutura fisiológica, suas características anatômicas, sua forma original, ele nunca deixará de ser aquela espécie inicial, mesmo que tenha modificado sua capacidade de metabolizar certas substâncias que durante sua criação divina ela não podia. Isso porque, para eles, as variações não podem superar a criação divina reconhecida pela baraminologia criacionista. Se superarem implicaria na faliabilidade de Deus.
Não há motivo algum para crer que as variações ocorram somente no nível da espécie. Se o rock se originou do blues, se o cristianismo se originou do judaísmo, se o português é uma língua derivada diretamente do latim; porque jacarés não podem derivar de crocodilos, e aves de répteis?
Não há evidência alguma que prove que as variações genômicas se restrinjam aos limites da espécie e que não podem transgredir este limite. De fato, as evidências apontam exatamente para o contrário. A domesticação de animais, hibridismo e experimentos laboratoriais criaram novas espécies a partir de isolamentos reprodutivos e preferências alimentares. A subjetividade do conceito de espécie destrói a baraminologia uma vez que espécies muito próximas que deveriam ser a mesma, simplesmente não são.
Cito o exemplo dos peixes trompete (Aulostomus maculatos e Aulostomus strigosus), das gaivotas argenteas e escuras, dos skuas da Antártida ou das andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer) e a Andorinha-do-dorso-branco (Tachycineta leucorrhoa) do Cerrado. São animais anatomicamente relacionados entre si, mas geneticamente isolados em espécies distintas, porém filogeneticamente próximos.
Em conclusão, a suposta arca de Noé deveria ter atracado no Monte Ararat, Turquia, mas não o fez. Em 2010 foi divulgado na mídia que havia sida encontrada a arca de Noé no Monte Ararat. Alguns pesquisadores cristãos foram fazer a análise e concluíram que de fato a madeira datava em 4.800 anos. A geologia novamente entrou em cena e quebrou as expectativas ao demonstrar que não há qualquer evidência de que o Monte Ararat foi algum dia coberto por água.
Descobriu-se depois que a arca nem estava no monte, mas sim próxima ao mar vermelho e tudo não passava de uma farsa. Notou-se por exemplo, que a madeiras mostradas nas fotos não eram velhas o suficiente. Não existiam imagens que pudessem mostrar a localização exata onde estava arca, e obviamente, nenhum perito que não fosse cristão teve a oportunidade de analisar o achado. Além disso, o achado estava sendo usado como um atrativo turístico gerando renda em cima de um boato e descobriu-se que alguns trabalhadores locais estavam envolvidos na fraude.
Até o diretor do ICR, John Morris, que é filho do Henry Morris (Fundador do ICR) rejeitou a descoberta por falta de evidências conclusivas. Isso significa que não há nenhum registro arqueológico no Monte Ararat que forneça qualquer evidência a favor do relato do dilúvio.
Depois de tantos anos de alegações, brigas e descontextualizações o criacionismo não tem absolutamente nada que justifique a Terra jovem, ou mesmo a veracidade do Dilúvio de Noé. Ele continua incrustado no livro dos mitos criados pela humanidade.
Referências
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